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Torá Oral

  A IMPORTÂNCIA DA TORÁ ORAL (para quem acha que só a Torá escrita vale): "Um não-judeu se dirigiu ao Sábio Shammaï e lhe perguntou:...

domingo, 3 de novembro de 2013

Toledot





oldot inicia-se com Yitschac (Isaac) e Rivca (Rebeca) 
rezando a D'us por um filho. Finalmente Rivca concebe, e após uma gravidez difícil dá à luz gêmeos - Essav (Esaú) e Yaacov (Jacó). Suas diferenças de personalidade logo se tornam aparentes, quando Essav se volta às caçadas, 
enquanto Yaacov é puro e ingênuo, passando o tempo no estudo de Torá.
Voltando de uma expedição de caça, exausto e faminto, Essav encontra Yaacov preparando uma panela de sopa de lentilhas. Yaacov concorda em dar ao irmão mais velho uma porção do pote de sopa, em troca de seu direito à primogenitura, e o acordo é completado.
Em face a uma terrível escassez, D'us diz a Yitschac para permanecer na Terra de Israel, ao invés de descer ao Egito como seu pai Avraham o fizera anos antes, por isso Yitschac e sua família se estabelecem em G'rar, (a terra dos filisteus, que fica dentro das fronteiras de Israel). D'us reafirma a Yitschac que seus descendentes irão tornar-se uma grande nação, tão numerosa quanto as estrelas do céu.
Após conseguir incrível sucesso financeiro, Yitschac entra em contínuo desentendimento com o rei Avimelech sobre os poços que Yitschac cavara novamente. Entretanto, finalmente chegam a um acordo, e o tratado que foi assinado entre Avimelech e Avraham é reconfirmado.
Muitos anos mais tarde, Yitschac decide abençoar Essav como primogênito. A uma ordem de Rivca, Yaacov se disfarça como se fosse seu irmão mais velho e recebe a bênção do primogênito (que por direito lhe pertence). A porção termina com Yaacov fugindo da ira de Essav por "roubar" sua bênção e escapa para Charan para ficar com o irmão de sua mãe, Lavan, onde encontrará uma esposa.



alvez não haja figura mais enigmática em toda a Torá que nosso antepassado Yitschac. Além da Porção desta semana, quase nada aprendemos sobre o homem, seu tempo, e o que fez durante sua vida. Em vez disso, somos levados a crer que após o clímax do seu feito de esticar o pescoço para receber o golpe da lâmina do pai, esta pessoa elevada retira-se a uma vida pacífica, cavando poços.
Igualmente frustrante é o papel aparentemente passivo e sem destaque que ele desempenhou nos episódios em que aparece. É levado por seu pai para ser sacrificado a D'us; o servente de Avraham (Abraão), Eliezer, é enviado para encontrar-lhe uma esposa; sua mulher o pressiona para que envie Yaacov para encontrar uma esposa; seu filho Yaacov o manipula para receber suas bênçãos. Por que Yitschac parece ser movido como uma marionete, simples argila nas mãos daqueles que o rodeiam? Que lições podemos tirar do comportamento aparentemente fora do comum do segundo grande Patriarca de nosso povo?
Nossos Sábios ensinam que os Patriarcas eram muito mais que progenitores biológicos da nação judaica. Cada um agia como "guardião dos portões", que destrancavam os portais celestiais, permitindo-nos estabelecer um relacionamento com D'us em maneiras singularmente únicas. Pela sua incorporação dos mesmos atributos com os quais D'us age conosco, ao espelhar Suas maneiras, eles foram capazes de elevar sua constituição genética, legando aos descendentes as qualidades Divinas que foram suas conquistas durante a vida.
Avraham personifica a qualidade de Chessed, bondade, de D'us. Cada ação, cada pensamento, cada palavra que falou estava repleta de amor e preocupação pela humanidade. Yitschac é a personificação do Divino atributo de gvurá, força. Em Pirkei Avot, Ética dos Pais, nossos rabis nos ensinam: "Quem é forte? Aquele que domina suas paixões."
A força não é medida por aquilo que você faz, mas por aquilo que não faz. Auto-controle, disciplina, organização são as ferramentas do forte, daquele que não pode ser levado por emoções fugazes e pelos caprichos do instinto. A lógica ditaria que esta qualidade deveria estar presente em todos os relacionamentos de Yitschac. Certamente ninguém questionaria que foi necessária uma força imensurável para calmamente se oferecer no altar, mas e quanto ao resto de sua vida? Onde mais vemos esta atitude se destacar?
A Criação é uma manifestação da bondade de D'us. Ele não tem necessidade pessoal de trazer-nos à vida. D'us é a essência da perfeição, a própria antítese do conceito de "necessidade". Suas intenções eram apenas que Ele desejava nos conceder o maior de todos os prêmios, o dom da eternidade que vem apenas de nos conectarmos a Ele através de Seus mandamentos.
Entretanto, há um ligeiro problema, por assim dizer, com Seu amor transbordante. O desejo de dar é tão forte que se não fosse controlado, D'us derramaria Sua Divina luz em quantidades tais que mesmo o propósito da Criação seria abolido. Ao invés de dar aos seres humanos a oportunidade de atingir a perfeição, de batalhar e de aprender a lutar por si mesmo, Ele teria nos concedido a recompensa sem que precisássemos levantar um dedo. Embora pareça tentador viver uma vida de tranqüilidade, sem desafios ou obstáculos para superar, bem sabemos que isto não seria verdadeiramente satisfatório. Nos sentiríamos roubados de nossa dignidade, se nos fosse negada a chance de conseguir algo por nós mesmos. Por isso, foi necessário para D'us se restringir, ou seja, refrear Seu amor abundante, dando-nos a chance de "conseguir através de esforço".
Isso de modo algum diminui o amor, pelo contrário, aumenta-o, tornando-o mais real. Isso é similar ao modo como os pais se sentem quando observam os filhos lutando contra a adversidade. Como desejamos aparar os golpes para eles, protegê-los da humilhação e da dor da derrota. Mesmo assim, sabemos que fazê-lo destruiria seu próprio ego, seus sentimentos de competência e segurança interior.
Esta é a aplicação dos atributos de bondade e força de D'us. Sua bondade deseja derramar sobre nós o maior bem imaginável. O atributo da força, restrição, impede que Sua bondade nos sobrepuje, nos sufoque. Poderíamos dizer que é a qualidade de força que possibilita que o atributo da bondade se torne significativo e eficaz, dando-nos o espaço necessário para criar nossa própria eternidade.
Yitschac personifica a força. É sua missão facilitar a bondade de Avraham. Como pode fazer isso? Ele "sai" do contexto; retrai-se e permite que a memória e o legado de seu pai sejam perpetuados. Poderia ter criado seus próprios seguidores, ter uma "plataforma de partido" de acordo com sua vontade, mesmo assim escolheu a negação de sua identidade para que o mundo recebesse uma dose adicional da bondade de Avraham. Nossos Sábios nos dizem que Yitschac era uma cópia exata do pai. Não é uma coincidência. Era seu trabalho ser seu pai.
Qual a diferença entre um poço e uma fonte? Um poço retira a água de uma reserva específica e contém uma quantidade finita de água. Por outro lado, uma fonte é viva, tem vitalidade própria. Yitschac cavava poços, mas não simplesmente poços, abria os poços que seu pai havia cavado e lhes atribuia os mesmos nomes que seu pai. Não está vivo por seu próprio direito, está conectado à fonte de seu pai.
Em cada relacionamento do qual participou, Yitschac desempenha o papel passivo. Não é tolo ou incompetente. Pelo contrário!
Dominou a habilidade de se ocultar nos bastidores, de fazer crer que não está ali. Mesmo assim permanece, sutilmente trazendo à tona o melhor aqueles à sua volta, deixando que se sintam importantes, deixando-os sentir que conquistam, enquanto realizam ações para ele. Esta é de fato um grande sinal de força!
Nós, como pais, devemos extrair a lição daquele pai que nossos Sábios dizem ser "o verdadeiro pai", aprendendo a soltar nossos filhos, a não dominar cada decisão que eles tomam. Como uma sombra, devemos adejar cuidadosamente, tocando e não tocando, para que eles possam vir a descobrir sua própria identidade por si mesmos. Esta é a verdadeira bondade, aquela que imita a bondade Divina.

 
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